nutrição infantil

Nutrição infantil

Por Gisele Rosa

Nutricionista materno-infantil

Instagram: @nutricionista.giselerosa

Um dos momentos que gera grande ansiedade dos pais no desenvolvimento dos filhos é a introdução alimentar. Esse é o período que o bebê fará a transição da alimentação líquida (de leite materno ou fórmula) para o sólido e irá descobrir o mundo dos alimentos, conhecendo suas cores, sabores, formatos e cheiros. Esse processo demanda tempo para o aprendizado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a introdução alimentar deve ser iniciada aos 6 meses e essa apresentação aos alimentos vai até os 2 anos. É nessa fase o bebê vai começar a construir um conhecimento e um relacionamento com a comida que poderá ser levado por toda sua vida. Por isso é tão importante que ela seja feita de forma mais saudável e respeitosa possível.

Até os 12 meses a oferta de alimentos tem o objetivo de complementar o leite materno ou fórmula infantil, que ainda será a principal fonte de alimento para o bebê. Mas a partir dos 12 meses, a alimentação sólida começa gradativamente a ser a principal fonte de alimento. Assim, até os 2 anos de idade, esse padrão alimentar já deve estar definido.

Aí você se pergunta: mas quando eu era bebê comecei a comer com 4 meses e minha mãe já me dava um chazinho, um suquinho, então qual é o problema em oferecer antes? Pois é, com a evolução das pesquisas hoje se sabe que é a partir dos 6 meses que a maioria dos bebês atinge um estágio de desenvolvimento motor e fisiológico que possibilita que ele possa receber outros alimentos.

Quando iniciado antes dos 6 meses, sua capacidade de digerir outros alimentos que não seja o leite materno ou fórmula ainda não está pronta. Isso aumenta muito as chances de desenvolver alergias e infecções alimentares, devido a essa imaturidade do sistema digestório. Além de aumentar as chances de apresentar carências nutricionais, diabetes e obesidade futuramente. Por isso, antes dos 6 meses, não se deve oferecer nenhum tipo alimento que não seja o leite materno ou fórmula, nem mesmo água.

Além dos 6 meses completos, é preciso ter atenção aos Sinais de Prontidão, que são os sinais que mostram que os bebês estão preparados para serem nutridos com outros alimentos. São eles:

  •  Sentar sem apoio ou com o mínimo de apoio para evitar o risco de engasgos;
  • Levar objetos à boca;
  • Diminuir sinais de protusão da língua (empurrar alimento para fora da boca);
  • Interesse por alimentos quando alguém está comendo

Completou 6 meses e apresenta os sinais de prontidão, o que posso oferecer?

Para começar, ofereça alimentos de verdade, nada de industrializados. Nos lanches ofereça frutas (suco somente após os 12 meses) e nas refeições principais um alimento de cada grupo: legumes, verduras, carnes (boi, frango, ovo ou porco), cereais (arroz, milho, quinoa, etc) ou tubérculos (batata, mandioca, batata-doce) e leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, etc). É importante levar em consideração a variedade dos alimentos oferecidos, dando preferência aos alimentos da estação por conterem menos agrotóxicos e estarem mais saborosos; e também que seja aqueles que fazem parte da alimentação da família conforme a região e cultura, desde que sejam saudáveis.

Evite usar liquidificador ou peneiras para triturar os alimentos. Você pode amassar com garfo ou cortá-lo em pedaços, iniciando com uma consistência macia e evoluindo aos poucos a textura. O objetivo é que até os 12 meses o bebê já esteja comendo na mesma consistência da alimentação da família. Em breve vamos falar sobre os métodos de introdução alimentar.

A papa principal também é conhecida como papa salgada. Apesar desse nome, a papa deve ser sem sal devido ao risco de consumir sódio em excesso. Mas a comida não precisa e nem deve ser sem sabor: utilize temperos naturais como salsinha, cebola, alho, cebolinha, manjericão, orégano, coentro, alecrim, gengibre, hortelã. Não utilize temperos industrializados como caldo de carne ou realçadores de sabor. O sal pode ser introduzido em quantidade mínima após os 12 meses.

Introdução Alimentar na prática

A família pode serguir o seguinte esquema:

Café da manhã – leite materno ou fórmula infantil
Lanche da manhã – fruta amassada
Almoço – Iniciar 1ª papa principal na 3ª semana de IA
Lanche da tarde – Iniciar fruta na 2ª semana de IA
Jantar – Iniciar 2ª papa principal com 7 meses
Noite – leite materno ou fórmula infantil

*IA= Introdução Alimentar

A partir dos 6 meses ofereça também água. O melhor estímulo para a criança é o exemplo familiar. Sempre que for beber água, ofereça também para o bebê. Água de coco, mesmo natural contém muito sódio, portanto ofereça somente a partir dos 12 meses.

Lembre-se que o Leite materno ou fórmula infantil é o principal alimento até os 12 meses e que no início o bebê pode aceitar uma quantidade muito pequena de alimentos sólidos, podendo ser necessário complementar as refeições.

 

O que não posso oferecer?

Até os 12 meses não oferecer:

  1. Sal
  2. Leite e derivados
  3. Suco de fruta

Até 2 anos não oferecer:

  1. Açúcar, mel, melado e alimentos contendo açúcar (bolo, doces, sorvete, refrigerante)
  2. Embutidos (linguiça, salsicha, presunto, salame)
  3. Enlatados
  4. Frituras
  5. Salgadinhos

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alimentos ultraprocessados devem ser abolidos nos primeiros 2 anos de idade. Mesmo após essa idade, podem ser oferecidos, desde que associados a uma alimentação saudável. Mas não devem fazer parte da rotina alimentar da criança por não serem nutricionalmente adequados.

Alimentos ultraprocessados são aqueles normalmente produzidos em larga escala e que levam muitos ingredientes, como sal, açúcar, óleos, gorduras e aditivos alimentares  como corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, entre outros. Exemplos: refrigerantes e suco em pó; salgadinhos de pacote; sorvetes, chocolates, balas e guloseimas, pães industrializados; bolo pronto ou mistura para bolo; barras de cereal; bebidas energéticas, achocolatados, bebidas com sabor de frutas; caldos de carne, de frango ou de legumes; molhos prontos; produtos congelados prontos para aquecer incluindo tortas, pratos de massa e pizzas pré-preparadas; extratos de carne de frango ou de peixe empanados do tipo nuggets, salsicha, hambúrguer; sopas prontas, macarrão e sobremesas instantâneos.

Mas… e se o meu bebê não come?

O bebê pode apresentar todos os sinais de prontidão e mesmo assim não se alimentar de imediato. Ele poderá explorar o alimento olhando, amassando, cheirando, para finalmente colocar na boca e decidir engolir. Lembre-se que ele viveu até agora se alimentando somente com leite e que tudo é novidade. Sendo assim, ele não vai começar se alimentando com grandes quantidades e querendo comer tudo o que for oferecido. Vá com calma!

Para começar, na papa principal ofereça uma colher de sobremesa de cada grupo alimentar e vá aumentando conforme perceber que ele quer mais.

DICAS IMPORTANTES:

  1. Os alimentos devem ser oferecidos separados e porcionados no prato para que a criança veja cada alimento, assim ela vai identificando a cor, sabor e conhecendo cada um deles.
  2. Se não aceitou um alimento nas primeiras tentativas, não deixe de oferecê-lo mudando a forma de apresentação, textura, preparo e tempero. As vezes é necessário oferecer 15 vezes  ou mais o mesmo alimento.
  3. Não espere criança ficar com muita fome, inicie uns minutos antes, assim que perceber os sinais. Também evite ao máximo oferecer a refeição nos momentos de sono.
  4. As refeições podem ser armazenadas na geladeira por até 3 dias (portanto não precisa fazer refeições diferentes no almoço e jantar, principalmente se essa não for a rotina da casa) ou no freezer por 30 dias (utilize potes de vidro com tampa plástica ou potes plásticos sem bisfenol/ BPA). Porém, evite preparar uma grande quantidade do mesmo alimento e oferecê-lo com muita frequência. O segredo é variar.
  5. Se atente aos sinais de fome e saciedade da criança, não force ela a comer. Alguns desses sinais são virar o rosto e empurrar a comida.
  6. Não faça comparações, elogios ou force seu bebê a comer, cada criança tem sua regulação natural de saciedade e estímulos assim podem atrapalhar. Ao invés de dizer: ‘se comer ganha sobremesa’; ‘se não comer não vai brincar’; ‘por favor  só mais uma colherzinha’; ou ‘parabéns, você comeu tudo’; diga: ‘que bonito esse brócolis’; ‘que feijão cheiroso’; ‘que delicia esta cenoura’.
  7. Crie uma rotina, porém sem rigidez de horário, rituais facilitam o aprendizado de comer.

E as papinhas industrializadas?

Papinhas industrializadas não são recomendadas por diversos motivos:

1) Os bebês, principalmente na introdução alimentar, precisam conhecer o sabor de cada alimento individualmente;

2) A textura e a consistência não favorecem a mastigação, exercício essencial nessa fase.

3) O processamento dos alimentos para chegar na consistência das papinhas acaba empobrecendo esse produto, diferente de uma refeição com alimentos in natura que são muito mais absorvidos pelo organismo da criança. Mesmo quando as papinhas são fortificados com vitaminas e minerais.

Essas informações são para bebês saudáveis, sem alergias ou necessidades especiais. Caso este seja seu caso ou se ainda tem dúvidas em como iniciar e a Introdução Alimentar do seu bebê, não deixe de procurar um nutricionista para te auxiliar!

O que as mães falam sobre a introdução alimentar

“Foi bem tranquila. Não segui um método especifico, só garantia que fosse comida de verdade. E zero preocupação com sujeira.”

Marília, mãe do Heitor

 

“Gostei muito da IA que fiz com minha filha. Segui algo tipo BLW/BLISS, introduzindo todos os alimentos na forma natural deles, todas as cores, sabores e texturas. Nenhuma exposição ao açúcar ou processados.”

Carina Biacchi

 

“Do meu primeiro filho foi bem tranquila, até hoje ele come de tudo. Já minha segunda filha foi complicado porque ela não queria largar o peito, quando era eu que dava comida, ela comia bem pouco e se jogava para mamar, só comia melhor quando uma outra pessoa dava para ela, sem ela me ver. Até hoje ela come menos que ele.”

A.E.P.

 

“Aos 6 meses as duas. Aceitaram muito bem e comiam bem. Iniciaram frutinhas e 15 dias depois com batata inglesa amassada e franguinho desfiado. A segunda filha teve uma dificuldade de digestão com a banana, mas depois de um ano normalizou.”

Raquel, mãe da Helena e da Laura

 

“Uma das partes mais difíceis”

Leticia P, mae da Helena

 

“Respeitei a ciência do desenvolvimento infantil e iniciei a IA com 6 meses de vida. Até os 6 meses foi amamentação exclusiva sem uso de bicos artificiais. Assim como a introdução de sal se deu com 2 aos de idade e de açúcar há poucos meses (minha filha está com 3 anos e 9 meses)”

Andréia, mãe da Ana Clara

 

“No início minha filha estranhava muito a consistência diferente dos alimentos, pois estava acostumada só com o peito. Dava aflição pois ela chegava a ter ânsia, e parecia um engasgo. Tentamos diversas vezes dar o alimento mais inteiro para ela mas não ia… Até que começamos a dar em formato de sopa, bem mole e misturado, aí começou a comer super bem. Aos poucos fomos separando mais e dando mais inteiro pra ela conhecer o alimento, e deu certo. Sempre respeitando o tempo dela.’

Mariana, mãe da Luísa

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